quarta-feira, 26 de setembro de 2012

LIBERDADE E TIRANIA SÃO OS PONTOS ANTAGÔNICOS QUE SE CONGRUEM EM CALÍGULA

Espetáculo fala sobre o poder como motor da descoberta do monstro que cada um de nós arrasta dentro de si


O último espetáculo da primeira edição do Festival de Teatro de Taubaté foi “Calígula, da Cia. Teatral Club Silêncio, sob direção de Renato Crozariol. O décimo grupo a concorrer se apresentou na noite de terça-feira, dia 25 de setembro, no Teatro Metrópole.

A peça, escrita pelo filósofo franco-argelino Albert Camus na década de 1940, e definida por ele como a tragédia da inteligência, traz a história verídica do tirano imperador romano Caio Júlio César Augusto Germânico – Calígula – reinante entre 37 e 41 dC., que tornou-se famoso pela sua personalidade cruel e sádica, onde irrompe dentro de seu próprio exército uma ação conspiradora contra ele devido suas tiranias desmedidas.


Em seu texto, Albert Camus traz temas filosóficos, que discutem as questões da felicidade, da liberdade e do poder, este último com suas consequências, como as deturpações, incompreensões e equívocos. Também aponta este mesmo poder como causa para a descoberta da ausência de limites interiores. Liberdade e tirania são os pontos antagônicos que se congruem em um único personagem - Calígula quer a liberdade, mas em sua loucura, tiraniza todos a sua volta, como se todos fossem culpados de sua condição.


Calígula deseja a liberdade sem fronteiras, o que o faz atravessar o tênue limite entre a sanidade e a loucura, tentando se igualar a Deus e de querer a Lua, símbolo do impossível. Em sua insensatez, humilha seus companheiros de exército, mata o filho e estupra a esposa de seu general, mata o pai de seu melhor amigo, assassina pessoas sem qualquer motivo aparente, expõe a população de Roma a flagelos e amedronta a todos com pressões psicológicas.


Escolhida pelo diretor por ser um texto antigo, descrevendo uma personalidade histórica, mas que ainda mantém sua temática muito atual – a ganância pelo poder – o diretor Renato Crozariol optou por uma estética simbolista, fazendo referências ao período nazista, utilizando muito vermelho, traços retos e simétricos, e signos de poder como a águia que lembra claramente a suástica – símbolo do exército de Adolf Hitler, o ditador louco que inspirou Camus a escrever esta tragédia.

A frase final deste personagem, que mesmo morrendo ainda profere “Ainda estou vivo!”, além de incomodar, denota que sua personalidade se mantém viva, como se o espírito de Calígula reencarnasse em outras figuras tão ou mais obcecadas pelo poder, referência que o diretor faz ao projetar em uma das cenas alguns dos mais famosos ditadores do período moderno.

Texto e Fotos: Aldy Coelho


Confira todas as notícias do 1º. Festival de Teatro de Taubaté pelo Jornal Diário de Taubaté

Nenhum comentário:

Postar um comentário